O Livro sobre o Futuro da Cielo, Stone, Pagseguro e Rede.

    2018: O Ano da Guerra das Maquininhas.
    2019: O Ano das Wallets.
    2020: O Ano dos Bancos Digitais.
    2021: O Ano das Plataformas.

   Para se manter relevantes, as grandes empresas de pagamentos precisarão inevitavelmente caminhar nessa direção. É o que acredita Edson Santos, um dos maiores especialistas em meios de pagamentos do Brasil.
“Em 10 anos não vamos estar falando mais de ‘credenciadores de cartão’, mas de plataformas de tecnologia com ofertas completas para o varejo,” Edson disse ao Brazil Journal. “As adquirentes terão que ir além do pagamento, que é o que a Stone e PagSeguro estão fazendo.”
O executivo — que já trabalhou mais de 20 anos em empresas como Redecard, Global Payments e First Data — desenvolve essa tese em seu novo livro “Payments 4.0: as forças que estão transformando o mercado brasileiro” (269 páginas, Linotipo digital, R$ 50), em coautoria com Luís Filipe Cavalcanti, que também tem décadas de experiência no setor.

   “Payments 4.0” é um resumo das experiências dos dois executivos no mercado, e se baseia em pesquisas e entrevistas com nomes como Pedro Coutinho, CEO da Getnet, André Street, fundador da Stone, e Rômulo Dias, o ex-CEO da Cielo, hoje na PicPay.
   Entre outros bastidores do setor, o livro conta como Cielo e Rede — ao tentar proteger seus negócios — acabaram ajudando a criar seus maiores pesadelos: a Stone e PagSeguro.

    Abaixo, nossa conversa com Edson:

   Por que o nome Payments 4.0?

   O 4.0 refere-se aos processos de transformação das indústrias com o uso de novas tecnologias e dados, que provocam disrupção e crescimento exponencial de algumas empresas, mas também a eliminação de outras. A indústria de cartões sempre foi organizada em torno de bandeiras, emissores e credenciadoras. Toda essa plataforma – ou “payments rails” – foi evoluindo com base na busca por segurança, velocidade e simplicidade nas transações. Esse modelo teve sucesso, mas também gerou complexidade. Hoje, o consumidor tem a sensação de que executou um pagamento em 5 segundos, mas, na verdade, todo o processo de pagamento pode levar até 12 meses (no caso de pagamentos parcelados).

   Em outras palavras, o que a indústria faz é buscar o dinheiro do comprador e transferir ao vendedor com pouca fricção e muita eficiência. Mas por trás dessa aparente simplicidade, existe uma estrutura robusta construída ao longo de décadas. Para se ter uma ideia, há 25 tipos de negócios diferentes que compõem a indústria de pagamentos no Brasil… E toda indústria complexa e cara um dia eventualmente sofrerá disrupção.

    As empresas de pagamentos já estão passando por esse processo, e algumas delas já acordaram. A Stone e a PagSeguro, por exemplo, têm avançado na cadeia de valor do lojista, criando plataformas com ofertas de produtos e serviços bancários, financeiros e de tecnologia.

 

   Quais são as forças que estão gerando esse processo de disrupção?

    Abordamos seis forças no livro: a competição; os novos entrantes (techfins, fintechs e big techs); a evolução do comércio; o regulador (Banco Central); as novas soluções de tecnologia; e as gerações de consumidores.

   Dedicamos capítulos para analisar os efeitos de cada uma dessas forças e demonstramos que, embora sejam independentes, elas têm o potencial de juntas trazer uma disrupção para o mercado de pagamentos em 3 a 5 anos — um processo que foi acelerado pela pandemia.
   Quando analisamos o cenário em 10 anos, o poder do consumidor vai ganhar uma relevância muito grande no setor. Os millennials e a Geração Z já são mais da metade da população mundial e, em 10 anos, serão 70% do mercado consumidor.

    As empresas do mercado de pagamentos acabam focando seus estudos no lojista, mas é preciso entender também o consumidor. A influência das forças descritas no livro tem levado à criação de novas soluções B2B2C e B2C, principalmente pela ascensão dos smartphones como uma ferramenta única de interação com os consumidores. Além disso, o ritmo das transformações do varejo é muito impulsionado pela influência de um consumidor soberano e cada vez mais exigente.

   Quais os efeitos do PIX para a indústria de pagamentos?


    O PIX elimina intermediários e tem como objetivo número 1 a inclusão financeira, substituindo o papel moeda por uma forma digital de receber e transferir dinheiro. Isso envolve bancarizar 45 milhões de brasileiros. 56% das pessoas no Brasil ainda recebem salários e realizam suas compras com dinheiro. O PIX também vai aumentar a competição no sistema financeiro, pela redução de custos transacionais e interoperabilidade das contas bancárias e de pagamento.

    Enxergamos o PIX como uma nova estrada para os meios de pagamento (um “payment rail”), e não como uma evolução incremental da indústria. O PIX pode se tornar uma inovação disruptiva e de crescimento exponencial. E, quando pensamos em disrupção, vemos que o PIX inicia atendendo às movimentações mais simples dos consumidores, como transferência entre contas, sendo o pagamento instantâneo um potencial substituto ao cartão de débito. Mas, com o passar do tempo, outras inovações poderão ser adicionadas, como crédito instantâneo, parcelamento de compras vinculado a garantias e seguro instantâneo sob demanda, ficando a cargo dos participantes criar produtos sob a nova infraestrutura estabelecida.

   Como serão os pagamentos no futuro?


   Preferimos não fazer previsões, mas o comportamento dos participantes do sistema sugere que haverá efeitos combinados daquelas seis forças.

  O comércio se modifica e se torna cada vez mais digital, atendendo expectativas das novas gerações de consumidores; plataformas e ecossistemas ganham importância na indústria, buscando atender o consumidor de forma completa, indo além do próprio comércio; a desmaterialização do cartão e a digitalização das credenciais de pagamento se multiplicarão, permitindo que o consumidor pague com segurança a qualquer momento e em qualquer lugar, usando um dispositivo de seu uso diário e pessoal como o celular, o relógio, a pulseira e seu carro, e fazendo com que o ato de pagar se torne mais simples, automático e/ou recorrente; o open banking, além de melhorar a oferta de crédito e serviços financeiros, aprimorará a experiência e automação dos processos de pagamento de consumidores e empresas, permitindo que aplicativos de uso diário, como WhatsApp, e os sistemas de gestão empresarial (ERP) iniciem e processem pagamentos.

 Essas transformações provocam digitalização, desintermediação, desmaterialização, democratização e disrupção. Como consequência, a indústria de pagamentos será maior e mais sofisticada, mas não conseguirá capturar valor isoladamente.

Fonte: https://braziljournal.com/o-livro-sobre-o-futuro-da-cielo-stone-pagseguro-e-rede